O Aniversário da Infanta

O Aniversário da Infanta

Em O Aniversário da Infanta, o autor Oscar Wilde nos apresenta um cenário de extravagâncias. A pequena Infanta, filha do rei da Espanha, tem em seu aniversário um dia inteiro de espetáculos para si e seus convidados.

É uma data especial e tudo transcorre em perfeita harmonia. Os artistas são excêntricos, assim como suas performances, arrancando gargalhadas e gritos de euforia da plateia. O mais singelo dos gestos provenientes desses sujeitos não escapa ao narrador, que os enaltecem pela graciosidade. A corte de crianças, pavoneada de cara elegância se porta com galhardia e até mesmo participa do entretenimento, encantando sua nobre princesa.

Eis que Wilde introduz à história o elemento de dissonância. O disforme anãozinho que a despeito de ser o responsável pelo regozijo máximo do público devido à sua figura desconjuntada, causa a ruptura da estética.

O anão tem caráter benevolente, caridoso e inocente. Tiramos isto dos relatos estendidos pelo autor, que cita suas inúmeras ocupações altruístas para com as mais simples criaturas.

Porém, a fisionomia grotesca do pobre coitado e seus trejeitos canhestros em demonstrar alegria provocam sentimentos de aversão em quem o observa. A atitude do narrador em retratá-lo apenas com adjetivos negativos reforça ainda mais a repulsa. Como nas fábulas, o anão se torna vítima de comentários degradantes de objetos, animais e flores. Essas últimas, em comportamento mesquinho que se equipara ao dos nobres reais, se sentem confortáveis ao rebaixá-lo socialmente e como indivíduo. Não há a mínima misericórdia.

Ao se deparar com sua imagem no espelho, o infeliz desaba no chão ciente da verdadeira razão pelo qual fazia as pessoas gargalharem, aceitando que com essa aparência nunca terá o amor da Infanta. A humilhação chega ao ponto de se perguntar porque seu pai não o matou ao descobrir ter gerado uma criatura tão horrorosa. Aqui, a angústia do leitor só não é maior do que ao final, quando a última esperança se esvai: que pelo menos a linda e bondosa princesa tivesse compaixão por ele. Mas ela se mostra igualmente ou mais cruel do que os outros foram.

A crítica social habitual de Oscar Wilde está exposta ao longo de toda a trama. Como no retrato da opulência inerente à corte espanhola, ou à natureza estacionária das flores que representam a aristocracia.

Os espetáculos dos artistas são artificiais. Impecáveis em suas fascinantes exibições, não possuem resquícios de realidade, distanciando os espectadores da feiura do mundo. O anão é o invasor, sua deformidade interrompe a beleza do evento.

Ao reconhecer sua monstruosidade, o pequeno ser tem sua concepção de mundo arruinada. Compreende que a hilaridade causada à plateia não se deve à sua dança engraçada, mas sim, à sua inocência perante a própria repugnância. A reação da princesa intensifica a rejeição das preocupações ruins em favor da alegria, mantendo a ingenuidade apesar de tudo. A abnegação inconsciente da situação trágica está no último trecho do livro:

E a Infanta franziu o cenho, e seus delicados lábios de pétala de rosa curvaram-se com desdém.

– Daqui em diante, não permita que aqueles que venham aqui brincar comigo tenham coração – disse ela, e saiu correndo para o jardim.

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